Prólogo

Eu sou algo peralta que insiste a implicar no mundo dos homens o movimento do pensar. Sim, um reles observador, dotado dos mais altos conceitos empíricos[1] de que se tem notícia. Em suma, um contador de histórias, que pelos serviços prestados solicita de volta, como forma de pagamento, apenas o próprio nome. Mas não se preocupem de início com isso, ou a maneira de efetuarem-me a paga; eu saberei ir recebendo aos poucos. Por agora somente peço que cuidem em ler nas entrelinhas todo o viver que irá surgir entre Gabriel e Ingridy. Neste relato não se encontra o ano das ocorrências, pois não seria justo pontuar-lhe com algarismos romanos ou outros quais. Ademais, o teor não indica o pensar de uma época, sublima o de eras.
A vocês, leitores ávidos, basta que saibam apenas um pormenor[2] sobre este romance: numa segunda-feira, entre o ontem muito distante, o hoje de agora e o amanhã vindouro de tantos outros amanhãs, é que colocarei a primeira linha do enredo. Confuso, caro leitor? Só até que termine de me apresentar!
Eu que sou apenas um funcionário que se move por entre os velhos, sacia os jovens e ensina as crianças. São eles que sustentam os meus honorários, sempre mudando os rostos que não posso preservar indefinidamente, contudo, e, felizmente a mim, ainda ficam as histórias. Quem posso ser?
Sou um que de pequenas mentiras mostra a vida, criatura única que mente a data do próprio nascimento todas às vezes que contempla a eternidade e decide contar uma vez mais a mesma vivência. Uma pista lhes dou: foram vocês mesmos, leitores, que inventaram o conceito do meu nome. Criatura da Terra e não do Céu, – eu que lá não existo – aqui, chamam-me pelo nome: Tempo.
1 Baseado apenas na experiência, e não no estudo.
[2] Circunstância particular; particularidade, minúcia, minudência, miudeza.

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