Amor Proibido - Capítulo 5


– Oi! Quero que conheçam Gabriel, que está ajudando com o meu papel, afinal de contas ele é o autor. – todas arregalaram os olhos – Gabriel quero que conheça: Carime, Samanta e Stefani, as minhas melhores amigas...
— São todas realmente lindas, mas o horário me bate – todas riram com a frase dita por ele. Gabriel ao perceber o que disse, mirou o chão e começou a sorrir também – Ah! Desculpem... Às vezes esqueço em que século estou. Também, ultimamente apenas tenho lido as tragédias de Shakespeare
... Espero que possamos nos encontrar novamente – completou olhando para Ingridy, ao mesmo que lhe entregou as e disse:
— Meninas, tchau!

Concluídas as despedidas, elas o acompanharam com os olhos – sem com isso os trazerem em silêncio. Pois esses são sempre falazes através da presença de quem tem urgência por conhecer. A escolta durou até que Gabriel desaparecesse pela porta depois de dar mais um último aceno. Todas no extinguir da imagem entreolharam-se e, antes que pudessem dizer qualquer coisa, lá estava Bruno surgindo através de uma das cortinas do lado direito do palco. Pelo jeito desleixado, tinha acabado de acordar. Não era alto e nem baixo, possuía rosto habitual se não fosse o cavanhaque que lhe alterava a imagem. Filho de pai negro e mãe branca de olhos azuis, era um homem de certa força física. A cor de sua pele era realmente muito bonita, entre os extremos que se beijavam no equilíbrio, era o Brasil. Dificilmente Bruno terminava de acordar em sua casa que a propósito ficava no sótão do teatro – uma vez que ele era um misto de caseiro e diretor –, dizia que gostava de fazer isso no banheiro do teatro. “Lá tem mais espaço que o meu” –, costumava explicar mostrando os dentes amarelados em favor dos cigarros; uma das poucas contradições de sua vida, já que nesse caso a história nos conta que Bruno teve no pai um mestre capoeira
. E quanto a ele próprio, tornou-se um exímio professor de roda e jogos. Não obstante, fosse como fosse, a sua vida era o teatro.
— Bruno, Bruno! – gritaram todas, no que correm em sua direção.
— Como você conheceu Gabriel? – interpelou Ingridy, em nada tentando esconder o interesse.
— Este pedaço de mau caminho! – remendou Carime a frase da amiga.
— Não se inflame, menina, pois de tão rubro que ficou o seu rosto, ninguém aqui duvida que você possa queimar com os lábios. – brincou Stefani rindo-se da cara furiosa que Carime fez. Samanta percebendo que o assunto já destituía fez um aceno para que Rans continuasse; quanto às amigas tagarelas, feriu-as com os olhos, como quem exige silêncio. Rans sem conseguir atinar o que ocorria primeiro perguntou:
— Como vocês conhecem Gabriel? Ele esteve aqui? – não houve respostas, apenas bochechas se contraindo as dar mostras de seus descontentamentos. Pela reação delas ficou evidente que sim. “Nossa como são impacientes essas meninas. E olha que são uns bons vinte anos mais novas do que eu. Quando chegarem na minha idade...” – disse para si mesmo balançando a cabeça – Ele é agora um bom e recente amigo, disto eu sei. Chegou aqui humilde e cabisbaixo, trazendo consigo um livreco dado a ele por um “copista habilidoso”.
— Vejam só, outro adorador medieval – inferiu Stefani, puxando briga com o diretor. As rusgas entre eles sobre qualquer assunto eram tão freqüentes quanto os rios caminham para o mar.
— Posso continuar?
— Se você não ficar citando textos de Shakespeare à medida que fala conosco...
— Como dizia, antes de ser interrompido – Rans mirou Stefani que sorria placidamente – a pedido seu, em boa letra de computador um digitador, amigo dele, trouxe para a luz os garranchos escritos. Por Deus! Uma letra horrível, registre-se aqui... Gabriel não respeita o tempo ou a mente, e tenta uni-los à medida que escreve. O resultado: é como se ele estivesse aguando a própria imaginação. A única diferença entre o real e o imaginário é que, no lugar do jardim, usa folhas, só que feitas de papel; e no lugar da água, letras ilegíveis.
— Nossa! Como o nosso diretor acordou inspirado esta manhã, não?
— Para com isso Stefani. – interveio Samanta antes que Rans quisesse responder a altura.
— Letra horrível não é meu caro Rans? Só ser for apenas à letra... – somou Carime a conversa, já fitando no gesto as amigas, um prelúdio das gargalhadas que viriam.
— Vamos comportem-se – gritou Ingridy tentando ocultar que também concordava com o comentário. Rans não gostava muito de ficar ouvindo mulheres falando de homens e logo interveio:
— Meninas, meninas, apenas sei que é um poeta e dele não há como não se afeiçoar. Tem hábitos que eu gostaria ver semeados a todos os cantos. Gentil no proceder, meigo no falar e atencioso no ouvir; também prestativo e solidário. Se tomam por verdade o que agora verto, ouçam: estava eu sentado aqui mesmo neste primeiro banco desconsolável, e, numa providência divina, olhei para trás; logo mais ali estava ele rabiscando e rabiscando. Eu nem sequer o tinha visto entrar. Olhei para o rapaz sem implicar por que um estranho estava folgadamente instalado aqui. Foi quando ele, percebendo o meu estado, perguntou-me qual era o motivo a dar curso a uma cara deveras carrancuda. Gargalhei de mim mesmo uns instantes e lhe disse que de uma peça de teatro precisava, posto quê, “o mestre de cerimônias”... – Rans ao terminar a frase sinalizou com os dedos voltados para Stefani a fim de indicar o uso de uma figura de linguagem e continuou – O dono do teatro, assim o exigia. Mas o problema era que eu não tinha dinheiro para contratar uma. Há pouco tinha gasto muito do pequeno lucro que acumulei com os novos equipamentos. Vejam vocês, ele sem me conhecer, afinal nunca nos vimos mais gordos, tirou por debaixo de seu braço aquele livreco de que lhes falei a princípio jogou-o em meu colo. Para minha surpresa e satisfação, adivinhem, tratava-se da peça que vocês estão a adorar: “Seres enamorados”.
— Em qual parte que você, meu amado Rans cita o passado de Gabriel neste triste relato? Vocês lembram? – questionou Ingridy as amigas a procura de apoio.
— Fala isso por que é rica – balbucia Rans para o nada, ou para si mesmo.
Com efeito, Rans nunca parou para se questionar quanto a vida do garoto. Mas, agora ponderando sobre isso, não via nada demais. Uma vez que se pode conhecer muito sobre uma pessoa apenas de se conversar com ela. Para o professor de capoeira e diretor do teatro de Barretos, informações pessoais ficam muito bem em fichas. Todavia a índole conta mais. Assim, se deu por satisfeito naturalmente.
— De Gabriel, realmente nada sei com profundidade, admito. Do que me coube apenas levo na conta a afeição que por ele simplesmente agora tenho. Porquanto em ato sincero, até hoje não me pediu nada em troca de sua mão estendida... – terminou Rans, sentindo-se um pouco réu num interrogatório sem juiz e direitos a defesa. O professor tirou do bolso uma escova e do outro o creme dental – Agora se me dão licença, preciso acabar de acordar.
— Tenho de ir, meninas! – anunciou Ingridy abruptamente as outras, enquanto Rans se afastava e espreguiçava, tudo ao mesmo tempo.
— Como se nem ao menos ensaiamos?! – interveio Samanta.
— Vocês realmente, hoje, ainda não. Agora a amiga de vocês aqui... – Ingridy sorriu, deu um beijo em todas, pegou os seus pertences. As amigas protestaram um pouco. Não, o termo não é bem este, caro leitor, reclamaram sim e muito. Todas as três vozes foram seguindo-a, atirando súplicas num primeiro momento; críticas num segundo e a óbito, por fim, ameaças. O que, como todo palavreado destemperado, a jovem disfarçava e não ouvia.
— Aquela garota tem ouvido mortos quando quer – disse aos goles Carime para as outras ao ver a furona fechando a porta atrás de si. Ingridy ganhou a rua dezoito como quem ganhara a pouco todas as razões para viver. Mal acreditava na sorte de ter sido a primeira a conhecer o poeta. Talvez isso fosse um aviso. Quem sabe um toque do destino. Ria muito, ria até de si mesma... e, interiormente, até um pouco de suas amigas. Não que fosse má ou fizesse pouco delas; Ingridy sinceramente as amava e confiava nelas. Cresceram juntas, conversando sobre os meninos, descobrindo-os e, por que não, disputando-os umas com as outras. O fato era que ela notou o modo que as amigas comiam Gabriel as olhos gulosos. E uma coisa assim, nem de longe podia ser desconsiderada – a aceitação é um bem muito difícil de ser conseguido, principalmente um consenso entre mulheres. Do mesmo modo, todas perceberam um certo romance pairando no ar. Por isso ela estava tão satisfeita com a vida. Havia vencido ali o jogo das mulheres. “Elas deveriam agora estar se roendo todas”, conjeturava Ingridy consigo mesma. Afinal, nenhuma mulher gosta de ficar em segundo plano. Mesmo estando entre amigas, todas continuam sendo mulheres, e, como tais, sujeitas as regras invisíveis do mundo feminino.

Amor Proibido - Capítulo 4

A porta do teatro bateu-se contra a parede num movimento uníssono ao sibilo inesperado de dobradiças corroídas de ferrugem; mover este que incorreu nos ares e os despertaram uma vez mais pela sala. A corta fogo em questão, posicionada ao lado direito do palco – no intuito de escoar melhor toda a gente ao final de uma apresentação – sempre respondia com violência ao mais leve estímulo de força que lhe aplicassem. E, claro, sempre jogava “o escândalo” que fazia nas costas de quem ousa-se abri-la... Ademais, os ecos derivaram teatro adentro nascidos do baque seco entre madeira oca e pedra, cujo estampido característico o poeta conhecia tão bem. Sobressaltado face ao estereótipo, e também por não estar esperando companhia alguma àquelas horas, Gabriel olhou curiosamente por sobre o ombro esquerdo à procura da fonte causadora do alarme.
A luz ao pé da porta ainda não se fazia suficiente, o que por um breve instante disfarçou a silhueta de quem se aproximava a passos cadenciados. O soalho impregnado de cera incolor era a única voz naquele teatro; ele chorava ante a passagem como se partes de seu corpo estivessem sendo furadas por uma agulha ininterruptamente e, por conseguinte, reclamassem por isso. Então, um vulto começou a se formar como se surgisse do nada. Destituída a princípio de cor e forma, uma silhueta foi tornando seu traços mais acentuados à medida que ia recebendo a luz das velas.
As cores começaram a brotar à forma e, como se fossem os primeiros raios da manhã caminhando sobre a terra, seguiam contornando o vestido que se deixava aos goles experimentar a leveza. De súbito, um corpo que não se afinava como as das modelos e tampouco se parecia as das pinturas antigas, começou a luzir-se diante de Gabriel.
A imagem parecia permitir a si mesma vislumbrar, deixando aflorar consigo e, de uma só vez, um pequeno e atrevido nariz a se completar sob sobrancelhas e olhos trabalhados como fossem feitos a lápis. Cada item seguia culminando numa soma tal, cujo resultado, caído à perfeição, o poeta nunca vira antes a enfeitar o relicário de um rosto feminino. Não obstante, o vigor maior vogava segundo o contorno incontinente de sua boca. Os lábios suscitavam ser tão amáveis que logo estimulavam a fissura. Eram como um fiorde, aqueles finos e delicados lábios, tão estreitos quanto profundos; um caminho donde, uma vez lá, não se deseja mais retornar. Gabriel, sem ar, afogou-se ali; posto que esses eram como a umidade ante a secura.
O jovem abriu um pouco mais as pálpebras. No íntimo a idéia de que uma ninfa nascera à sua frente não era de toda insana. Sim, uma ninfa, reforçou para si mesmo, daquelas descritas por fabulosos como Homero em seus épicos. O que posso dizer? Não menos que o poeta a provou à maneira de seus olhos claros, e, vendo-a, tornou a não acreditar. Quando obrigou-se a crer no que via, compreendeu, em todas as suas nuanças, o que pretendia dizer o outro (poeta) sobre a beleza quase divina da mulher nova que nas faces traz o frescor de menina.
Tais impressões, cuido em dizer leitor, que enraizaram-se nele como forças da natureza, essas que o homem não se dá ao luxo de negar, posto que está além de sua vontade bani-las; forças essas, volto a dizer, que o invadiram tão velozes e de modo repentino, quanto é o aparecimento de um tufão para o simples espectador. Visto que estas, idéias que são, assumem dimensões antagônicas quando encerradas numa folha ou guardadas na memória.
As folhas, queria crer Gabriel, se enchem facilmente com uma idéia quando alguém para lá as transferem. Com enfeito, esta mesma idéia que antes não tinha forma, passa a ocupar muito espaço contando tantos caracteres quantos forem possíveis o lápis escrever; tornando o que era pequenino muito grande. Então, conclui-se que, uma idéia ainda confinada à mente, ocupa lugar efêmero, diz-se até compacto. Porque se reduz a uma única quantidade no qual só se aprisiona o sentido. Em outras palavras, assemelha-se a trazer consigo um conceito que sabe-se verdadeiro, entretanto, tem-se dificuldade de explicar-lhe a forma.
A moça que estava diante de Gabriel se relacionava com os seus conceitos mais íntimos, no entanto, ele sequer ainda havia entendido isso, até vê-la. Toda a idéia de beleza que guardava dentro de si, estava em frêmito instante rabiscado em folha real, naquela pintura bem ao alcance dos olhos.
O destino que construiu Gabriel como pessoa até ali, jogando na equação de sua vida tantas variáveis quanto lhe foi possível, agora, dava mostras do resultado ímpar, e em imagem conseguido através de toda a interação de suas experiências.


Gabriel tornara-se somente olhos, janelas verdes quase pétreas registrando a cena. Todos aqueles meus netos (os segundos) de admiração e reflexão que a efeito pareceram nascidos de minhas filhas (as horas) terminaram silenciosos.
O ardor feminino que num primeiro momento manteve-se parada contemplando o teatro, talvez em busca de algum rosto conhecido, ainda continuava estancada à posição. O jovem, tendo os olhos nela, nem sequer percebeu que os sons pararam a sua volta, ou tampouco ao constrangimento que causava. O próprio pensamento destoou até extinguir o que antes parecia tão essencial – o motivo que a movera até ali. O poeta, então, sentiu que meu reflexo (o infinito) passaria por ele, e, em toda a extensão que o deslumbre permite.
A visão o agredia a maneira sublime. Gabriel vislumbrou uma jovem aparentando não mais de dezessete primaveras. Os cabelos castanhos como os dele vestiam-na como ramagens douradas até o meio das costas deitados ali como um véu, contrários ao rústico e similares a ceda.
A moça surgiu diante dele como se regressasse de uma longa ausência, trazendo no olhar amadeirado a alegria que sempre deixa as mulheres mais bonitas, o quê para o caso dela – reiterava o moço para si –, ela pouco precisava fazer quanto a isso. Então, como se decidisse trazer morte a hesitação, a jovem pôs-se a caminhar, saindo da inanição dos passos em direção a fileira do corredor central do teatro. Altiva, passou por Gabriel e o cumprimentou, para em seguida baixar os olhos rumo aos livros, algo enlaçados pelos braços cobertos só até os ombros. Todavia, o tom de pele levemente amorenado – que nos trópicos é tão somente mais um estado do amor – caía, apropriadamente, tal qual fina película a fim de esconder a vergonha que no interior sentia.
Ao perceber que estava sendo seguida à distancia, com movimentos mínimos, caminhou um pouco mais deixando escapar dúvidas e mostras de sua pequena confusão por estar sendo observada. Decidindo-se, enfim, sentou-se em uma cadeira não muito distante do palco.
A moça vagarosamente cruzou as pernas deixando à mostra um par de tornozelos grossos e bem torneados – para o delírio visual de Gabriel que sempre fôra fascinado por pernas como aquelas; ela, sem se deter, pousou os livros ao seu lado e, fitando os joelhos, tratou logo de arrumar o caimento do vestido impregnado de um azul celeste, quase tão claro quanto um céu despido de nuvens.

Aqui de novo, caro leitor, abro outro parênteses. Pois sendo quem sou, mais do que a sucessão dos anos, dos dias e das horas, irei me permitir por um página ou duas, um desafio tolo: imitar a maneira rebuscada de narrar o amor surgindo entre duas pessoas. Tal como fez Shakespeare com o seu Romeu e Julieta. Sei que ele não me quererá mal por isso. Afinal, fomos amigos! Sendo assim, voltemos a Grabriel e Ingridy...

Não havia maneira de negá-la. Aquela beleza envolta em mistério o aliciava tanto que não foi difícil para Gabriel notar os próprios olhos sorrindo novamente – e quem diria – em um dia que havia começado com lembranças tempestuosas e tristes. O rapaz, simplesmente, após observá-la por alguns instantes, não pôde ficar mais inerte frente à beleza cativante que o incomodava de certa forma. Na sua mente começou a surgir inúmeras dúvidas. “O que uma garota estaria fazendo num teatro em pleno feriado?” – perguntava-se – Contudo, atentou-se para o fato de que poucas vezes sentiu tanta luz fluir de uma pessoa, de uma mulher. Sem dúvida para ele, o dia que começara sem sol, débil pelas feições, agora, não mais jurava apenas denunciar o frio que o cinza estampado em sua face sempre trazia num dia como aquele. Havia alguma coisa a mais naquela manhã de maio em Barretos que o jovem poeta desconsiderara por muito tempo existir. Porém, ele sentiu necessidade de experimentar a presença langorosa dela.
Dentro de si algo mudava, como se raios luminosos começassem a incendiar-lhe a alma e, da obscuridade, o sol, na pessoa daquela linda menina, a tudo novamente iluminava; e iniciava por dar corpo, rosto e coração a emoções que julgavam já tão adormecidas.
Gabriel e a moça entreolharam-se vária vezes, ambos tentando fingir atenção ao trabalho que faziam. Mas dada às presenças insinuantes, uma vez que eram jovens e bonitos, nada mais conseguiram engendrar de suas causas e intenções primeiras.
O jovem tomado de um impulso fechou o livreco, caminhou até a fileira de bancos onde estava a garota, fitou-a um pouco, para só então libertar a gota que, sendo a primeira, precederia um mar:

— Boa dia, desculpe-me a intromissão, pois é fato que sua linda presença aqui ilumina mais do que as velas. E não reclamando disto gostaria de saber o porquê, tão graciosa presença, veio a este teatro quando todos que dele se servem já partiram?
— Talvez o mesmo que você... – respondeu a garota tentando disfarçar que gostou dos elogios elegidos a ela sob o disfarce de uma pergunta e continuou:
— Estou revendo um texto que preciso decorar em três dias. Como vê, sou uma atriz. Não seria você também um ator? Se não por que ficar num teatro quando todos que dele se servem já partiram? – completou a jovem pagando na mesma moeda e um sorriso de troco.
— Não, não. Não sou um ator, se bem que às vezes faço algumas pequenas participações. Mas, um poeta acredito que sim. Gosto de crer que sou protegido dos deuses da leitura e da beleza interior, cujo ofício é, e, assemelha-se ao do compositor que, fazendo amor com as notas consegue as organizar de tal maneira que estas se tornam delicadas e harmoniosas de se ouvirem; ou como meu “irmão” pintor que no riscar do pincel imita os sentimentos das formas e os imortaliza em telas... Claro que não tenho pretensões as belas artes, o meu alvo são as belas letras
[9]. Como vê, o que sou, senão o meu ofício?
— Nossa! Para alguém aparentemente novo, se expressa muito bem. Então me deixa ver se entendi, você é em conclusão um valoroso amante, não? Posto quê compõe, pinta e escreve-me com suas palavras em impressão... – ambos riram à sombra da ocasião, veja você leitor, corados de felicidade:
— Portando... – retomou a moça agora ali já com medo de que o silêncio momentâneo chegasse e os abraçasse:
— Se é um poeta, não fica difícil de deduzir que deva ser um daqueles jovens que se reúnem naquele sobrado conhecido como a Casa dos Poetas?
— Sim.
— Como entrou aqui? – inquiriu ela com os olhos faiscando de curiosidade, similar a um feitiço feminino.
— Sou um amigo do Bruno, seu diretor. Adoro vir e escrever no meu elemento, ver este palco, imaginar cada cena, sentir as pessoas prestando atenção silenciosa a cada frase dita, e, de cada pedaço, ir montando sua interpretação pessoal do que lhe é exposto. De fato é tudo muito mágico no teatro!
— É, realmente. – concordou a moça que dava mostras de estar gostando da conversa – Sabe, comecei a fazer teatro para preencher o tempo. Depois, fui me apaixonando. Relaxa-me muito fazê-lo. É onde tiro férias de meus problemas...
— Por que parou de falar? – inquiriu de pronto Gabriel, talvez também temendo que o silêncio entre eles se instaurasse. E arriscou:
— Sabia que tem uma voz agradável? – uma frase curta, mas forte; a jovem corou as bochechas sem perceber. E como disse, Gabriel temendo por uma situação pouco confortável, tratou logo de emendar um novo assunto:
— Que peça você está encenando?
— Enceno Enamorado... Conhece?
— Se a conheço? Eu a escrevi!
— Você está brincando comigo. Ora vamos, disse isso para me impressionar... Não? – a garota ficou muito séria e desfez o sorriso. Logo, já um pedacinho mais aflita, tentou concluir – Então você é...
— Desculpe! Esqueci de me apresentar... Sou Gabriel, criado e servo... – O jovem lembrou-se de uma das cenas que a menina mantinha no colo e beijou-lhe a mão.
— Meu nome é Ingridy Pelissari.
— Pelo sobrenome é importante aqui, não?
— Meu sobrenome não importa, porém acho que o seu deve ser... muito mais que o meu. Senão por que então, da minha pessoa você habilidosamente até agora ocultou? – devolveu Ingridy sagaz, pontuando o dito com um piscar do olho esquerdo.
Gabriel simplesmente adorou aquela mistura agressiva e articulada, mas ao mesmo tempo fina e delicada que se construía diante dele. A garota parecia saber o que queria. Não podia negar que gostou da maneira que ela reagia a ele.
Deve ser isso que é sentir a química – pensou – Quando tudo corre perfeito e sem estar pré-concebido.
A situação toda estava nascendo entre eles de maneira natural. E aquela era uma sensação muito boa de se experimentar novamente.
— Nada disso... quem me dera fosse assim... importante! – completou ele tentando voltar para a conversa, já que dentro de si muitas questões o percorriam tentando elegerem juntas um fórum – Meu sobrenome ainda não disse, e o evito até para evitar situações embaraçosas. A pronúncia é um pouquinho difícil. Mas como sei que num mar toda mulher se acaba em curiosidade, ai vai: chamo-me, completamente, Gabriel Van Engelshovem, que significa algo como: Gabriel, Anjo do Paraíso. Um presente para carregá-lo até depois desta vida. “Porque os nomes sempre cuidam de nos perpetuar. Faça bom uso do seu meu filho”, dizia-me mamãe. – a voz do rapaz foi-se esvaindo até que não pôde ser mais ouvida, e os seus olhos combinados tomaram rumo ignorado.
— Faz muito tempo que não ouço um filho se referir assim – maravilhou-se Ingridy, contornando-o com os olhos cada vez mais radiantes.
— Assim como?
— Mamãe... Hoje é tão raro alguém se referir às mães dessa maneira. O normal é mãe pra cá, mãe pra lá...
— Ela sempre fez questão – explicou Gabriel um pouco envergonhado – Veja, quando imitava algum amigo meu, ela exigia! E depois brincava: “Mãe é filho de pobre!”. Não que em algum momento fomos ricos. A frase funcionava mais como uma hipérbole, um exagero, que só serve para afirmar algo e o tornar indelével em nossa mente.
Qual é a origem do seu nome? – perquiriu a Ingridy tentando animá-lo, pois sua expressão agora se encontrava perdida em memórias do passado.
— É holandesa... – respondeu ele ressuscitado sem ter um dedo meu para a réplica (algum momento para as próprias reflexões). Pois, ansiosa como a garota estava, ela imediatamente emendou um pouco mais de alegria a conversa:
— Hun! E vem você me dizer, sem falsa modéstia, que não tem o nome mais importante do que o meu? Pode até não revelar sua posição financeira, mas é imenso em riqueza de significado...
Gabriel se percebeu um pouco embaraçado com o comentário, de fato, não esperava tal pérola. Entretanto, seus olhos se voltaram para Ingridy sem que ele próprio houvesse pedido, ambos, desejando viajar sobre ela.
— O que você acha de me deixar ajudá-la com as suas falas? – somou o poeta tentando disfarçar o embaraço – Pode ser essa mesmo que você está segurando. Vamos até o palco? A jovem aceitou sem hesitar, talvez pelo fato de vê-lo todo corado e novamente sorrindo. Ela sabia que todo homem quando pego desprevenido, sob qualquer aspecto, fica um pouquinho envergonhado perante uma mulher. A personagem Maria do livro Onze Minutos do escritor Paulo Coelho que o diga.
Feito o convite Ingridy levantou-se ajudada por seu mais novo amigo e subiram no palco após cruzarem alguns degraus. Ao fundo enxergava-se facilmente pesadas cortinas pretas que ligavam o teto ao chão, divididas em três pontos; desse modo os atores poderiam surgir para a cena dos cantos ou do meio, conforme o ato ou a pena do escritor assim exigisse. Não havia móvel algum, apenas aqueles arquétipos divinos. Travessia feita dividiram as folhas.
— Posso então? – perguntou Gabriel deixando que seu rosto assumisse a seriedade do momento – Comecemos! ...Não permitas desanimar-te frente ao pequeno amor, pois quando este assim o é, não merece tal jóia prolongar-se nele. É sonho vazio que enegrece a vontade e a faz refém. Permita-se confiar em teu instinto que, em aviso, agora mesmo lhe diz, que sou teu grande e verdadeiro amor.
— Como gostaria de confiar em tuas palavras. – inicia Ingridy – Eu que às vezes tenho tanto medo do novo. Gostaria, nesta primeira hora, de me entregar ao verdadeiro amor, mas onde ele está? Pensava eu que fosse o primeiro, que um dia, noite adentro, toquei com os meus olhos, faces e mãos. Confiei, e toda minha extensão fôra dele... Sempre que penso ter encontrado o amor, este reluz, esgarça e se desfaz, como a espuma branca do mar, que rompe os rochedos beliscando-os um pouco e, num piscar de olhos, desaparece em pranto, deixando úmido o seu lugar de toque. Logo, como podes tu, amar alguém como eu que insisto em viver num mundo donde o amor sopra a morrer suas últimas golfadas? Posto que não sabes, aquele sorriso maroto, aquele soluto enganador que se dissolve em juras e rostos, está a me perder! Tudo a se esvair, corroído por sua própria bela face que, esquecida dos outros, de mim, reflete-se no lago de tantas ilusões e, mesmo agora, não lembra o que antes fôra essencial. Agora sabeis, como o ar se organiza a minha volta e de como me sinto... Assim, pergunto: por que ainda insistes?
O jovem poeta se lembra da marcação de cena, que num dia afoito pacientemente tanto explicara a Bruno, e, como num ato contínuo também fez questão de cumpri-la junto a Ingridy.
— Insisto adorada! Porque o amor é algo insistente. Muitas vezes perdido, insiste em retornar. Quando acreditado morto, insiste em dar sinais de vida. Ferido, insiste em sarar-se. Até quando frente à pequenez costumeira das almas alheias, ainda assim, insiste em aumentar. Por que insisto?, respondo a ti; como causa só faço obedecer minha vontade. Eu que, com o romper do dia, comando homens, pensamentos e vidas, seus frutos sob minha guarda, desejos e destinos, e, na maioria das vezes, torno-me à grata solução. Dobro a realidade às minhas intenções. Porém, à noite é para ti que vão os meus pensamentos, todo gesto insuflado de carinho e beijos que distantes anseiam pelos teus...

Um som os distrai. Içados de memória pelo alarido de muitos passos, não tiveram outra opção além de interromper o ensaio e tornar todas as emoções a si. Várias meninas entraram pela já citada porta que ficou desde o início deste encontro aberta. Algumas das meninas sorriam, outras tentavam entender o que se passava.

Amor Proibido - Capítulo 3

Uma alegria incomensurável invadiu-o; ali, o poema o Anjo do Engano era o ápice de sua criação. E tanto sabia disso que o regozijo obrigava olhos e lábios, a se abraçarem a fim de sorrirem juntos; realmente sentia-se satisfeito. Era o mais próximo que conseguia chegar de sua perfeição como homem.
O rapaz era católico, não daqueles que vão todos os domingos a igreja, mas católico, orgulhava-se de o dizer. Assim, interiormente acreditava que, como sendo filho de Deus, nalguns invariáveis momentos conseguia – como seu Pai – tocar com os próprios dedos o pouco da perfeição que cabe aos homens, aos filhos; quando estes, por exercerem algum trabalho, produzem algo valioso através de seus dons – dádivas do Pai.
Gabriel sorria igual criança, como era incrível pensar que algumas poucas linhas podiam resumir anos de sua vida, compreendê-la e elucidá-la. Com aquele feito, conseguira transferir para o papel, – em menos de uma hora – todas as emoções sentidas de sua primeira experiência amorosa.
O desamor ocorre muitas vezes na vida de uma pessoa, e, daquela primeira impressão, muito aprendera. Para o moço não mais havia aquele sentimento angustiante que o obrigava a procurar a felicidade todo o tempo, a todo custo. Ele compreendeu, depois de se levantar desse sofrimento, que este mesmo pesar o obrigou a repensar muitas posturas suas em relação à vida e às pessoas que o cercava. Percebeu que há veracidade na frase popular, de que a felicidade vem quando menos se procura. Porque ela surge quando nos damos conta que estamos realizando algo, quer seja no trabalho, em casa ou no amor; quando paramos de ser intolerantes quanto às pessoas que estão ao nosso lado. E isto ocorre amiúde ao entendermos, com profundidade, que todos têm defeitos, – a maioria das pessoas sabem disso – entretanto, agem como se não soubessem. Todos possuímos algum vício na personalidade, pontos negativos, que se forem analisados isoladamente desqualificariam já na primeira olhadela qualquer ser humano. Gabriel por simples percepção acreditava que ninguém é totalmente mau ou completamente bom. Ora, se não fosse assim, os seus poucos e melhores amigos nunca pisariam na bola com ele, e olha que algumas vezes, e dava graças à Deus porque eram raras, eles realmente pisavam na bola. Afinal, não é verdade que ao sair para caminhar, Jesus
foi abordado por um homem que lhe disse: “Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” Respondeu-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um que é Deus”.

Eu não pude deixar de me afeiçoar ao rapaz, e, por essa razão mesmo é que tenho de abrir um parêntese aqui, antes de prosseguir com a narrativa, a fim de esclarecer um pormenor
que só não é mais velho do que eu, por motivos óbvios. Pois, a despeito que disse ou hei de dizer ainda, só há um jeito de se fazer com que uma pessoa envelheça mais devagar que outras. E não acredite que isto aconteça por conta de cosméticos ou o que quer que se possa ajuntar sobre isso. Este segredo apenas eu detenho. Não precisa de muito, na verdade, exige apenas que o Tempo (este mesmo que vos fala) se emocione com alguém. Pois, quando uma pessoa ganha a minha atenção, não há de envelhecer como as outras...
Imagine o que acontecerá se eu ficar “segurando” a imagem da pessoa com os olhos; literalmente, estarei parado ao redor do meu escolhido, não é mesmo? Esta é a resposta! É por isso, e só por isso que, ao se olhar para alguém que esta sob os meus cuidados, não se consegue adivinhar-lhe a idade. Quem já não passou por mais de uma situação dessas, não é mesmo? Logo, resolvi que seria bom com ele, enquanto o meninote adorasse viver. Pois somente isso mantém o encanto e meu olhar próximos. Até porque, assim como Goethe
, não suporto o mau humor humano.
A páginas tantas, como seu mais novo padrinho, tratei logo de ruir as ilusões e dissipar toda a fumaça que o cegava. Em sua vida havia necessariamente ocorrido uma espécie de Big-bang
– uma explosão criadora que muda vidas e as atitudes. Passada aquela experiência, Gabriel descobriu que podia escrever.
O rapaz simplesmente, agora, sabia que o seu sorriso era muito importante para as pessoas que gostavam dele. Bem como as inúmeras qualidades delas significavam por conseguinte muito para ele. A descoberta de que mesmo a tristeza é um dos elementos misteriosos de Deus, havia lhe trazido a paz necessária de que tanto precisava e ansiava. A paz que ora vivia era algo que o seu espírito facilmente confundia com uma sensação real de felicidade. Em outras palavras, não mais procurava ignorar que a vida é de verdade; que não se tratava de uma quimera, e, sim, de um sonho realizável de luta diária até o último suspiro.

Amor Proibido - Capítulo 2

Após ter acendido algumas velas que trouxe de casa – visto que várias lâmpadas do teatro estavam quebradas – Gabriel se afundou confortavelmente numa cadeira macia da platéia, no que se permitiu folhear o próprio diário; um livreco com dois dedos de páginas, cujo conteúdo das primeiras, podia-se encontrar toda uma época de pureza de sentimentos, inocência e alívios registrados. Período que nem sequer imaginava a existência do mal. Já que é assim mesmo que acontece com os puros de coração: em um primeiro momento de suas vidas, ao confrontarem-se com outras personalidades, erroneamente acreditam que essas pessoas pensam da mesma maneira que elas. Todavia, e, talvez graças à providência divina, os ingênuos logo percebem que não podem viver tão crédulos. Assim, paulatinamente são levados pela dor a perceber o quanto à experiência tinge a história de cada um ao evidenciar que a vida é de verdade. Quem sabe, seja até por isso que tantos poetas sempre tratam de pôr no molde das letras a idéia de que quando eu – O Tempo – passo por eles, destes ficam somente as lembranças de seus sentimentos mais infantis.

Hoje, algumas “páginas” depois, Gabriel entendia o significado das palavras: cautela, revelação e dor. “Porque ninguém aprende nada de importante se não viver a emoção do momento” – dizia para si mesmo com freqüência. O jovem, após aprisionar a idéia central de um poema, simplesmente podia fazer qualquer outra coisa, passasse, eu mesmo, quantas vezes quisesse por ele. Apesar da pouca idade entendia que, do centro pode-se atingir as extremidades, tornando o abstrato macio e palpável.
O poeta que via o mundo com olhos claros, não possuía corpo exagerado nos músculos, era magro, de ombros largos e cabelos ondulados castanho-claros. Sempre elegante, quer vestisse jeans ou linho e adorasse o negro nas roupas, continuamente, dava mostras do seu estilo – como se observasse um costume – ao envergar combinando, num tom principiado ao sério, alguns inseparáveis acessórios tais como: sapatos de bicos levemente quadrados, cinto e relógio. E já que mencionei algumas das particularidades do meu protegido, não poderia deixar de acrescentar ao pé do ouvido: a aparência de Gabriel sempre facilitara as coisas para ele. É...
Bem sei o quanto a beleza influi no caráter de uma pessoa enquanto ela se desenvolve. Afinal, sou eu o único a rasgar as horas em mil pedaços, como quem olha as fotografias de um filme, percebe cada cena, e, por cada negativo que passa, analisa um momento do crescimento do mundo e de seus frutos. Por isso, enquanto amontoava os séculos, não me foi difícil acompanhar a história das pessoas mais desejadas – já que estas também a mim fascinam. Constatei que essas personalidades foram sempre bem recebidas aonde quer que fossem. Mesmo porque há uma pré-disposição humana em se tratar com melhores cuidados o que se vê como belo. Agora, você pode até me perguntar: como se sabe se essa ou aquela pessoa é realmente bonita? E categoricamente lhe respondo: todas as pessoas são belas e possuem alguma forma de beleza, mesmo que interior. Todavia, se percebemos que muitas pessoas concordam com o fato de que certa personalidade reúne beleza suficiente para aprisionar os olhares à primeira vista, esta sim pode se considerada uma criatura bela. Ou seja, a beleza causa a mesma impressão em opiniões que, em muitos outros assuntos, assumem sentidos opostos. Trocando em miúdos, a beleza exterior favorece o ser que a possui, no sentido de lhe outorgar um conforto ilusório de segurança, já que é a personalidade mais paparicada em qualquer ambiente. Daí, você leitor, poderá até me dizer que para toda regra logo se envereda uma exceção. Concordo! Outrossim, nem de longe é o caso aqui. Afirmo isto, porque Gabriel tinha consciência da presença deste amparo invisível todas às vezes que era convidado a vislumbrar, porta adentro, os olhos de outra pessoa. Esta simbiose, uma vez estabelecida, era prova incontestável da existência de um poder misterioso que emanava daquele rosto; assemelhava-se a recitar um verso sem ter de expressar uma só palavra. Pois o desejo, poderoso que é, nestes momentos já nasce implícito.

Sei que falo muito, pois é da minha natureza dar muitas voltas; admito até estar causando aqui a impressão de estar, matando... (o Tempo). Ora! Nem de longe é o caso, como poderia matar-me? Mesmo porque sou perpétuo enquanto houver razão para que eu exista... Confesso a você, leitor, e me é tão duro admitir a verdade crua, de que apenas conservarei está consciência crítica que me alimenta, emociona e me enche de histórias todos os dias, enquanto o homem, essa criatura de Deus, existir. Duvida? Pense numa pessoa morta... O que alguns homens sempre dizem uns aos outras com pesar ao aludirem sobre a morte de alguém? Em muitos casos é algo... mais ou menos assim: “O Tempo dela se extinguiu”. Entende agora? Deixo de existir paras as pessoas que morrem. Agora pense no que aconteceria se a humanidade deixasse de existir... que processo se desencadearia sobre mim? Nunca pensou sobre isso, não é? Mas eu sim. Com efeito, tudo o que sou é o que demais tenho. Claro que ainda hei de continuar envelhecendo as pedras e até a dita poeira cósmica, quando o homem tiver passado. Entretanto, imagine só a condição que se estabelecerá: se não há ninguém mais para intuir que eu exista, realmente estarei extinto. Pois, sem a consciência do homem perderei também a minha, entendeu agora? Não serei mais que algo disforme que continuará o seu trabalho, abandonado às pedras e ao pó; completamente apagado, no muito um nome escrito a lápis e que mais tarde vieram e lhe passaram a borracha. E o que restará? Socorram-me! Apenas sinais de uma existência, pouco mais que ranhuras sobre papel.
Desculpe-me. Precisava desabafar... Estou melhor agora. Nem pareço aquele que iniciou a narrativa, não é mesmo? Não importa, voltemos agora a Gabriel com os seus dilemas.

O teatro estava tão quieto que o poeta rapidamente se lembrou dele. As poltronas exibiam um azul quase marinho em seus estofados. O chão de taco consumia para si toda a luz, havia algumas cortinas e pesados ventiladores que nasciam das paredes. O palco se erguia cerca de um metro e meio do chão. Duas escadarias às laterais levavam um público menor a experimentar o que de melhor as cenas doavam. Muitos desses “privilegiados” confidenciavam – a boca pequena – apreciarem melhor assim o espetáculo; porque uma vez colocados ali, não conseguiam perceber os ínfimos erros difíceis de serem notados à distância, o que tornava aquela leitura uma tanto mais bela.
Antes de continuar a escrever o poema definitivo, Gabriel percebeu que havia algo já escrito no verso da linha em que começou. A folha, ora impura, fôra inscrita a várias noites passadas, tantas que não mais conseguia se lembrar. Tentou começar a ler, contudo, os olhos falharam devido à hipermetropia que o contaminava. E, não querendo forçar mais as vistas – por temer a dor de cabeça que sempre o visitava depois – despegou os óculos da blusa e os vestiu com a maior naturalidade. As hastes amarelo-ouro comungavam, numa espécie de tom sobre tom, com as mexas de cabelo que lhe cobriam a testa ampla, assim como as orelhas quase élficas – como gostavam de lhe aporrinhar os amigos...
O bardo, agora em seu elemento e, após ter colocado os citados óculos, experimentava alguma liberdade para correr com olhos mais confortáveis a primeira linha de uma composição escrita há muito de mim. Palavras cuja presença emergia ali de maneira inusitada, caída a um encanto; códices riscados por ele mesmo, como já mencionei antes, nas costas de um rascunho que ficara esquecido, meio que emaranhado numa das entre páginas de sua agenda. Ele desembaraçou o papel e, deixando que o fulgor de algumas cenas do passado novamente o inundassem, rememorou:
“Sentada num banco frio, vi a metade de mim, parada a olhar-me, pálida qual uma estátua. Notei também que sorria de maneira pétrea em amorfa alegria. Contudo, advertia meu coração, que não sentia mais aquela enorme euforia que no meu peito acontecia todas as incansáveis vezes que a via, receava e sofria. Do que sei apenas sei o que não sinto. Todavia, a vida não mais corria ali, isso eu agora percebia, naquela fria metade de mim.”
Gabriel leu de maneira vagarosa cada sentença do poema... Como ele tinha se afeiçoado àquela garota! Mas, mesmo o aço jogado ao relento destempera, assim como as invariáveis mágoas se deitam murchas com o meu vagar cioso. Pois o sentimento antes fortuito se vê tacanho e mórbido, como uma brasa que definha lentamente. E assim foi até que numa bela noite, o acaso – outro velho mexeriqueiro das emoções humanas – optou a reuni-los novamente – a musa e seu poeta – a fim de dar pontuação final ao livro de suas vidas.

Aconteceu que num dia de festa e em meio ao inverno, o “poeta de riu doce” a viu sentada num canto da sala donde estava, ambos cercados pelos mesmos amigos. Ela, naquela ocasião, discreteava o olhar tentando não chamar a atenção para o lugar que fitava. Mas o rapaz logo tratou de colocar uma parede entre eles, indo ficar com alguns amigos que estavam reunidos num outro cômodo. Depois de anos sem se falarem, o jovem percebeu que ela não era mais a pessoa por quem ele se apaixonara. Tudo que julgava vivo dentro de si, se reduziu à consistência de suas memórias. A sua metade não mais existia; trataram de deixar no lugar apenas uma cópia em frio mármore, sorrindo enquanto sentia-se, como ele, desconfortável. Era a própria Monalisa emoldurada; um sorriso que nada nos diz além de uma aparente felicidade. Tal sensação talvez ocorresse a ambos pelo fato de estarem tão próximos. Deve ser por isso que as pessoas temem o amor, por acreditarem que finda a sua existência etérea, não mais haja lugar para a amizade dos que antes foram amantes.
Dali em diante, o menino poeta compreendeu que aquele corpo não estava mais vivo. A sua metade permanecia no mundo, contudo, foi o próprio mundo desta que lhe subtraiu a vida. Uma vez que se entende que as cores da vida nascem da presença do amor. O fato verdadeiro – pensara o jovem – era que a realidade dela tornou-se dura demais para se reconhecer às causas. Assim se nutria esquecendo, enquanto mentia para si mesma e, um dia a mais, apartada da verdade, vivia. Como na canção que diz: “Distraindo a verdade e enganando o coração! Enganando o coração...”

Gabriel voltou a página ao avesso da folha que mantinha entre os dedos. A metade de mim, como chamou o poema que acabou de revisar, ficaria ali estampada no verso do que ele agora deveria criar.
O rapaz trazia nos olhos o frescor da inocência novamente. Sim! O frescor se refaz quando nos sentimos novos e dispostos. Aquela sensação de leveza só era possível, se legado ao horizonte, todo o contexto pelo qual passara fosse transferido de sua alma para outra. Só ele próprio entendia a dor que sofreu; apenas ele sentiu na pele a febre que lhe ocorreu. Quantas perguntas brotaram de sua mente àquela época, sem que de início conseguisse construir uma resposta – de fato, não há fases ou novos amores que afastem da vida dos homens tais momentos de confusão solitária. Em verdade, a resposta da qual ansiava só viria, depois de muito observar o mundo a sua volta e no que dentro dele havia. Então, depois de muito ponderar sobre o que tinha falhado; do porquê as coisas tomaram o rumo que tomaram, Gabriel, finalmente, encontrou a sua tão procurada conclusão; bastava apenas que a rabiscasse numa folha, para encontrar finalmente a paz. Não obstante, logo mais precisaria mesmo entregar um novo poema para que fosse publicado no folhetim do qual era o editor juntamente com outros poetas. Esta associação mais tarde ficaria conhecida como: A Casa dos Poetas. Eram dessas publicações que viviam ele e seus colaboradores. Em suma, restava unir o útil ao agradável. Então, o rapaz leu uma vez mais a única linha presente naquele lado da folha, alterando um ‘nos’ por um ‘a’. Repetiu a leitura, só que agora, deixando-a que ecoasse dentro de si:
“E seu anjo viu quando o outro vil a enganou...” – a frase era bem mais que uma idéia em si mesma, refugiando-se em seu íntimo Gabriel abstraiu-se: “Inesperadamente ela me deixou, nós que éramos indivisíveis. Mas ela acreditou nas ilusões que lhe diziam. Ela estava tão satisfeita de mim que não entendia o que poderia ser ficar longe de quem se ama e ter fome de amor. Sim, porque a solidão é como uma fome que nos obriga a saciá-la.” – ponderou longamente depois de fitar a parede à frente, sem realmente estar vendo-a. O bardo que possuía sobrancelhas pintadas à mão deitadas sobre duas esferas tão caídas a semelhança de esmeraldas quanto abissais, cingiu o lápis pelo ar enquanto passeava um pouco mais pela própria alma:
“Como se enganaram aqueles olhos sempre brilhantes, castanhos, por vezes quase verdes. Iludiu-se quando o seu mundo um pouco se abriu; começou a sair, e novos amigos surgiram relegando a mim, que estava tomado pelo ciúme, a um segundo plano. Mas depois, quando se percebeu sozinha, deve ter sentido no horizonte de sua alma, várias nuvens tempestuosas varrendo-a com a solidão”
Gabriel recostou-se na cadeira, levando a mão esquerda até a fronte ao mesmo que vasculhava a si próprio:
“Quantas vezes tentei lhe dizer que um rompimento àquela altura nos separaria talvez para sempre. Mas os motivos dela eram maiores, dizia à todos. Tanto que, a cada conversa, mais e mais a distância seguia se abrindo entre nós”.
O jovem poeta, que ora emergia os olhos do ambiente, não se demorou muito em abrir as pálpebras lentamente. Com efeito, sentia novamente aquela entranha sensação desafeiçoada. Afinal, aquela a qual era única dentre os lírios, havia traído a ambos; ele e o próprio anjo que zelava pela segurança dela. Recordava ali e, mesmo mal podiam acreditar, que aquela boca exuberante pôde um dia se contradizer tanto:
“É... Aquelas palavras foram à gota d’água num mar de muitas lágrimas. Dentro de mim senti algo ruir naquele dia específico. Como se um raio houvesse me partido ao meio. Como estava enganada ao meu respeito; como estava enganada sobre nós! Sim, muitos opinaram sem se importarem com a dor que causariam, sombras... Mas, certamente, agora você sabe o que sei.”
Gabriel meio que em transe, dobrou-se sobre a folha de maneira ávida, riscando letras na folha branca e seca. Ele precisava dar vazão ao que o seu coração exprimia. Assim, ia organizando aquele contexto que vivera, viu, riu e chorou, tudo na forma de um poema. Pensando melhor, qual a melhor maneira de restituir a realidade em torno de si, senão pela maneira isolada de ver o imprescindível?
O jovem então escreveu em silêncio durante alguns minutos, parando apenas uma vez, quando quebrou a ponta do lápis ao ribombar o que seria a penúltima parte do poema prometido aos amigos para antes do almoço – a diagramação e impressão do folhetim se dariam àquela tarde. Logo, o poeta ergueu os olhos claros, firmou-os nas letras de sua criação e finalmente pôde ler:


“O anjo do engano

E seu anjo viu quando o outro vil a enganou: quando no fio do tempo você cortou o amor que era um, tornando-o, dois corações. No instante em que acreditou no que ia a sua volta, e não mais naquilo que a nutria e alimentava; por ora farta, já esquecida da “fome”.
E seu anjo viu quando o outro vil a enganou: quando você deixou que os olhos tintos dele se misturassem às areias dos seus, pôr-do-sol, luz e trevas. Quando consentiu que soprassem nos seus ouvidos visões e imagens; depois, enfim entendeu, do que plantado foi por si semeado, você colheu apenas tempestades.
E seu anjo viu quando o outro vil a enganou: e esse mesmo tentou lhe dizer o que iria acontecer. Todavia, plena de si, seguiste e os ignorou. Quando afirmou para o vento orgulhosa: “Você e ele, vozes que se confundem, têm obsessão por mim!”
Sim! Raio e rasgo, o seu anjo viu quando o outro vil a enganou: quando você, plena e forte na voz disse isso esquecida no saber, de que qual o anjo que não leva no intuito da guarda, senão, boa obsessão?
Ah! O seu anjo viu quando o outro vil a enganou: quando já passado os ventos do tempo – e não os do esquecimento – penso que você agora vê o que vimos, que o outro vil realmente... Enganou!


Amor Proibido - Capítulo 1

“E seu anjo viu quando o outro vil os enganou” – No tingir de uma linha num papel ainda virgem, Gabriel, deu início ao fim de sua paixão mais forte. Ele era assim, sempre andava pelas ruas somando suas idéias e quando as harmonizava tratava logo de eternizá-las, deixando estas a salvo das chuvas do esquecimento – porque não havia hora ou lugar para que elas simplesmente ocorressem. E tendo terminado de correr a frase numa folha de rascunho, o jovem pôde então, retirar do bolso uma chave grosseira e muito pesada que servia para abrir a porta do imponente teatro de Barretos. Mas antes que colocasse a dita no trinco, decidiu guardar um segundo para si a fim de ficar olhando a volta.
O dia, apesar do ritmo imposto pela data, não parecia muito vivo. A cidade pacata localizada ao norte do estado de São Paulo, também era conhecida muito além do sertão, como a Terra dos Peões de Boiadeiro. O Chão Preto, apelido carinhoso que se repetia às bocas tal como eco em tempos de festa, sempre via a poeira saudosa de agosto se levantar feliz e expressiva a beijar o ar costumeiramente seco nessa época; pedaço doce do ano cujos ventos anunciantes sempre enregelam as faces todas; tornando vermelhos os narizes e os abraços mais aconchegantes. Todavia, ainda era maio, mês das noivas, como bem o sabes querido leitor. Mas, a despeito dos três meses que ainda faltavam para o seu aniversário, a cidade dava mostras que pouco se importava; pois, na grande maioria dos seus dias, vivia em frêmito constante, numa espécie de festa perpétua dentro e fora dos versos. Assim, como que embriagada desse espírito, a “terrinha”, de chão vermelho, assiduamente expirava um cantar doce que fazia o vento assobiar e as saias farfalharem em derredor das moças lindas; visão que sempre culminava com cabelos risonhos que corriam a se despentear, fosse qual fosse a data espelhada nos calendários.

O teatro de Barretos se erguia exprimido entre as avenidas dezessete e dezenove, dominando com sua imponência toda a atmosfera do lugar. Para lá, o jovem poeta seguia todas as manhãs para escrever e alinhar o que absorvia do mundo.
Gabriel, esquecendo-se de suas impressões, tratou logo de dar duas voltas na chave. A porta uma vez destrancada não foi difícil movê-la. Estava escuro ao principiar dos passos, tanto que ao ligar do interruptor, pupilas se contraíram ao extremo tentando acomodar a explosão da luz que, dissoluta, também dissolveu todo o breu.
“Ferino feriado! Eis que estamos novamente a nos abraçar”– pensou o jovem do alto dos seus raros dezoito anos ao mesmo que apertava o crucifixo de encontro ao peito. Naquele dia, dia de S. José Operário, também se comemorava o aniversário de sua ex-namorada, data festiva e indelével para ele fosse como fosse.
Um sorriso morno, sempre a contornar a boca de Gabriel, dissonava com as lembranças dela. Memórias que na sua maioria eram boas, certamente alguns dos melhores momentos de sua vida, antes do fim inesperado e doloroso. Tais impressões, quando vividas, todas as pessoas as levam inscritas nos olhos, já a essa altura, inquiridores e desconfiados. Mas a alma de Gabriel já havia experimentado o “tempo dos homens”, ou seja, um pouco mais de mim. Mesmo você, caro leitor, creio que também me tem na conta como um velho bochechudo que sobriamente sempre se encarrega de aliviar das almas o peso excessivo, notoriamente agregado a vários sentimentos confusos e manifestos, que riscam a face de todos ao fim de uma relação. Sim, Gabriel sentia que seu espírito estava um tanto mais solto, como se os ares do teatro que lhe beijavam a face.
O ar, antes aprisionado, corria agora confiante por todos os lados; como Gabriel fazia dentro de sua própria alma, uma vez que aquele mesmo ar, por muito tempo, ficara sem se mover; sentindo-se estagnado, pouco desvinculado do título de vento. O jovem, após a tempestade emocional por qual passou, sentia-se renovado, uma outra pessoa, um tanto mais feliz. Aprendera a se olhar com outros olhos, sentimentos mais confiantes o percorriam. Finalmente, havia entendido que um tempo para as suas próprias aspirações e desejos, era do que ele realmente precisava. Viver a sua vida; ter uma própria. E tudo isso lhe ocorreu depois que permitiu que antigas quimeras passassem por ele. Afinal, as pessoas necessitam transcender ao que são; conhecer novas formas de ver o mundo e a si mesmas.

Prólogo

Eu sou algo peralta que insiste a implicar no mundo dos homens o movimento do pensar. Sim, um reles observador, dotado dos mais altos conceitos empíricos[1] de que se tem notícia. Em suma, um contador de histórias, que pelos serviços prestados solicita de volta, como forma de pagamento, apenas o próprio nome. Mas não se preocupem de início com isso, ou a maneira de efetuarem-me a paga; eu saberei ir recebendo aos poucos. Por agora somente peço que cuidem em ler nas entrelinhas todo o viver que irá surgir entre Gabriel e Ingridy. Neste relato não se encontra o ano das ocorrências, pois não seria justo pontuar-lhe com algarismos romanos ou outros quais. Ademais, o teor não indica o pensar de uma época, sublima o de eras.
A vocês, leitores ávidos, basta que saibam apenas um pormenor[2] sobre este romance: numa segunda-feira, entre o ontem muito distante, o hoje de agora e o amanhã vindouro de tantos outros amanhãs, é que colocarei a primeira linha do enredo. Confuso, caro leitor? Só até que termine de me apresentar!
Eu que sou apenas um funcionário que se move por entre os velhos, sacia os jovens e ensina as crianças. São eles que sustentam os meus honorários, sempre mudando os rostos que não posso preservar indefinidamente, contudo, e, felizmente a mim, ainda ficam as histórias. Quem posso ser?
Sou um que de pequenas mentiras mostra a vida, criatura única que mente a data do próprio nascimento todas às vezes que contempla a eternidade e decide contar uma vez mais a mesma vivência. Uma pista lhes dou: foram vocês mesmos, leitores, que inventaram o conceito do meu nome. Criatura da Terra e não do Céu, – eu que lá não existo – aqui, chamam-me pelo nome: Tempo.
1 Baseado apenas na experiência, e não no estudo.
[2] Circunstância particular; particularidade, minúcia, minudência, miudeza.

Advertência

No momento em que uma pessoa começa a ler uma obra, uma forma diálogo entre o autor e o leitor se estabelece. Essa tal conversa só alcançará sucesso, ou mesmo uma possibilidade de entendimento, se for travada entre pessoas de uma mesma estatura intelectual.

O Autor

Benditos...

Benditos mesmo são aqueles que influenciam o pesar de nossa pena sobre o papel, conduzem nossa voz, ou nos fazem traduzir suas importâncias... Pois neles também estão muitos dos nossos pensamentos, nossas orações e nosso amor. Assim, enquanto o tempo caminhar e o passado existir, na alquimia do futuro, serão abençoadas.

O Autor