Amor Proibido - Capítulo 5


– Oi! Quero que conheçam Gabriel, que está ajudando com o meu papel, afinal de contas ele é o autor. – todas arregalaram os olhos – Gabriel quero que conheça: Carime, Samanta e Stefani, as minhas melhores amigas...
— São todas realmente lindas, mas o horário me bate – todas riram com a frase dita por ele. Gabriel ao perceber o que disse, mirou o chão e começou a sorrir também – Ah! Desculpem... Às vezes esqueço em que século estou. Também, ultimamente apenas tenho lido as tragédias de Shakespeare
... Espero que possamos nos encontrar novamente – completou olhando para Ingridy, ao mesmo que lhe entregou as e disse:
— Meninas, tchau!

Concluídas as despedidas, elas o acompanharam com os olhos – sem com isso os trazerem em silêncio. Pois esses são sempre falazes através da presença de quem tem urgência por conhecer. A escolta durou até que Gabriel desaparecesse pela porta depois de dar mais um último aceno. Todas no extinguir da imagem entreolharam-se e, antes que pudessem dizer qualquer coisa, lá estava Bruno surgindo através de uma das cortinas do lado direito do palco. Pelo jeito desleixado, tinha acabado de acordar. Não era alto e nem baixo, possuía rosto habitual se não fosse o cavanhaque que lhe alterava a imagem. Filho de pai negro e mãe branca de olhos azuis, era um homem de certa força física. A cor de sua pele era realmente muito bonita, entre os extremos que se beijavam no equilíbrio, era o Brasil. Dificilmente Bruno terminava de acordar em sua casa que a propósito ficava no sótão do teatro – uma vez que ele era um misto de caseiro e diretor –, dizia que gostava de fazer isso no banheiro do teatro. “Lá tem mais espaço que o meu” –, costumava explicar mostrando os dentes amarelados em favor dos cigarros; uma das poucas contradições de sua vida, já que nesse caso a história nos conta que Bruno teve no pai um mestre capoeira
. E quanto a ele próprio, tornou-se um exímio professor de roda e jogos. Não obstante, fosse como fosse, a sua vida era o teatro.
— Bruno, Bruno! – gritaram todas, no que correm em sua direção.
— Como você conheceu Gabriel? – interpelou Ingridy, em nada tentando esconder o interesse.
— Este pedaço de mau caminho! – remendou Carime a frase da amiga.
— Não se inflame, menina, pois de tão rubro que ficou o seu rosto, ninguém aqui duvida que você possa queimar com os lábios. – brincou Stefani rindo-se da cara furiosa que Carime fez. Samanta percebendo que o assunto já destituía fez um aceno para que Rans continuasse; quanto às amigas tagarelas, feriu-as com os olhos, como quem exige silêncio. Rans sem conseguir atinar o que ocorria primeiro perguntou:
— Como vocês conhecem Gabriel? Ele esteve aqui? – não houve respostas, apenas bochechas se contraindo as dar mostras de seus descontentamentos. Pela reação delas ficou evidente que sim. “Nossa como são impacientes essas meninas. E olha que são uns bons vinte anos mais novas do que eu. Quando chegarem na minha idade...” – disse para si mesmo balançando a cabeça – Ele é agora um bom e recente amigo, disto eu sei. Chegou aqui humilde e cabisbaixo, trazendo consigo um livreco dado a ele por um “copista habilidoso”.
— Vejam só, outro adorador medieval – inferiu Stefani, puxando briga com o diretor. As rusgas entre eles sobre qualquer assunto eram tão freqüentes quanto os rios caminham para o mar.
— Posso continuar?
— Se você não ficar citando textos de Shakespeare à medida que fala conosco...
— Como dizia, antes de ser interrompido – Rans mirou Stefani que sorria placidamente – a pedido seu, em boa letra de computador um digitador, amigo dele, trouxe para a luz os garranchos escritos. Por Deus! Uma letra horrível, registre-se aqui... Gabriel não respeita o tempo ou a mente, e tenta uni-los à medida que escreve. O resultado: é como se ele estivesse aguando a própria imaginação. A única diferença entre o real e o imaginário é que, no lugar do jardim, usa folhas, só que feitas de papel; e no lugar da água, letras ilegíveis.
— Nossa! Como o nosso diretor acordou inspirado esta manhã, não?
— Para com isso Stefani. – interveio Samanta antes que Rans quisesse responder a altura.
— Letra horrível não é meu caro Rans? Só ser for apenas à letra... – somou Carime a conversa, já fitando no gesto as amigas, um prelúdio das gargalhadas que viriam.
— Vamos comportem-se – gritou Ingridy tentando ocultar que também concordava com o comentário. Rans não gostava muito de ficar ouvindo mulheres falando de homens e logo interveio:
— Meninas, meninas, apenas sei que é um poeta e dele não há como não se afeiçoar. Tem hábitos que eu gostaria ver semeados a todos os cantos. Gentil no proceder, meigo no falar e atencioso no ouvir; também prestativo e solidário. Se tomam por verdade o que agora verto, ouçam: estava eu sentado aqui mesmo neste primeiro banco desconsolável, e, numa providência divina, olhei para trás; logo mais ali estava ele rabiscando e rabiscando. Eu nem sequer o tinha visto entrar. Olhei para o rapaz sem implicar por que um estranho estava folgadamente instalado aqui. Foi quando ele, percebendo o meu estado, perguntou-me qual era o motivo a dar curso a uma cara deveras carrancuda. Gargalhei de mim mesmo uns instantes e lhe disse que de uma peça de teatro precisava, posto quê, “o mestre de cerimônias”... – Rans ao terminar a frase sinalizou com os dedos voltados para Stefani a fim de indicar o uso de uma figura de linguagem e continuou – O dono do teatro, assim o exigia. Mas o problema era que eu não tinha dinheiro para contratar uma. Há pouco tinha gasto muito do pequeno lucro que acumulei com os novos equipamentos. Vejam vocês, ele sem me conhecer, afinal nunca nos vimos mais gordos, tirou por debaixo de seu braço aquele livreco de que lhes falei a princípio jogou-o em meu colo. Para minha surpresa e satisfação, adivinhem, tratava-se da peça que vocês estão a adorar: “Seres enamorados”.
— Em qual parte que você, meu amado Rans cita o passado de Gabriel neste triste relato? Vocês lembram? – questionou Ingridy as amigas a procura de apoio.
— Fala isso por que é rica – balbucia Rans para o nada, ou para si mesmo.
Com efeito, Rans nunca parou para se questionar quanto a vida do garoto. Mas, agora ponderando sobre isso, não via nada demais. Uma vez que se pode conhecer muito sobre uma pessoa apenas de se conversar com ela. Para o professor de capoeira e diretor do teatro de Barretos, informações pessoais ficam muito bem em fichas. Todavia a índole conta mais. Assim, se deu por satisfeito naturalmente.
— De Gabriel, realmente nada sei com profundidade, admito. Do que me coube apenas levo na conta a afeição que por ele simplesmente agora tenho. Porquanto em ato sincero, até hoje não me pediu nada em troca de sua mão estendida... – terminou Rans, sentindo-se um pouco réu num interrogatório sem juiz e direitos a defesa. O professor tirou do bolso uma escova e do outro o creme dental – Agora se me dão licença, preciso acabar de acordar.
— Tenho de ir, meninas! – anunciou Ingridy abruptamente as outras, enquanto Rans se afastava e espreguiçava, tudo ao mesmo tempo.
— Como se nem ao menos ensaiamos?! – interveio Samanta.
— Vocês realmente, hoje, ainda não. Agora a amiga de vocês aqui... – Ingridy sorriu, deu um beijo em todas, pegou os seus pertences. As amigas protestaram um pouco. Não, o termo não é bem este, caro leitor, reclamaram sim e muito. Todas as três vozes foram seguindo-a, atirando súplicas num primeiro momento; críticas num segundo e a óbito, por fim, ameaças. O que, como todo palavreado destemperado, a jovem disfarçava e não ouvia.
— Aquela garota tem ouvido mortos quando quer – disse aos goles Carime para as outras ao ver a furona fechando a porta atrás de si. Ingridy ganhou a rua dezoito como quem ganhara a pouco todas as razões para viver. Mal acreditava na sorte de ter sido a primeira a conhecer o poeta. Talvez isso fosse um aviso. Quem sabe um toque do destino. Ria muito, ria até de si mesma... e, interiormente, até um pouco de suas amigas. Não que fosse má ou fizesse pouco delas; Ingridy sinceramente as amava e confiava nelas. Cresceram juntas, conversando sobre os meninos, descobrindo-os e, por que não, disputando-os umas com as outras. O fato era que ela notou o modo que as amigas comiam Gabriel as olhos gulosos. E uma coisa assim, nem de longe podia ser desconsiderada – a aceitação é um bem muito difícil de ser conseguido, principalmente um consenso entre mulheres. Do mesmo modo, todas perceberam um certo romance pairando no ar. Por isso ela estava tão satisfeita com a vida. Havia vencido ali o jogo das mulheres. “Elas deveriam agora estar se roendo todas”, conjeturava Ingridy consigo mesma. Afinal, nenhuma mulher gosta de ficar em segundo plano. Mesmo estando entre amigas, todas continuam sendo mulheres, e, como tais, sujeitas as regras invisíveis do mundo feminino.

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