Amor Proibido - Capítulo 3

Uma alegria incomensurável invadiu-o; ali, o poema o Anjo do Engano era o ápice de sua criação. E tanto sabia disso que o regozijo obrigava olhos e lábios, a se abraçarem a fim de sorrirem juntos; realmente sentia-se satisfeito. Era o mais próximo que conseguia chegar de sua perfeição como homem.
O rapaz era católico, não daqueles que vão todos os domingos a igreja, mas católico, orgulhava-se de o dizer. Assim, interiormente acreditava que, como sendo filho de Deus, nalguns invariáveis momentos conseguia – como seu Pai – tocar com os próprios dedos o pouco da perfeição que cabe aos homens, aos filhos; quando estes, por exercerem algum trabalho, produzem algo valioso através de seus dons – dádivas do Pai.
Gabriel sorria igual criança, como era incrível pensar que algumas poucas linhas podiam resumir anos de sua vida, compreendê-la e elucidá-la. Com aquele feito, conseguira transferir para o papel, – em menos de uma hora – todas as emoções sentidas de sua primeira experiência amorosa.
O desamor ocorre muitas vezes na vida de uma pessoa, e, daquela primeira impressão, muito aprendera. Para o moço não mais havia aquele sentimento angustiante que o obrigava a procurar a felicidade todo o tempo, a todo custo. Ele compreendeu, depois de se levantar desse sofrimento, que este mesmo pesar o obrigou a repensar muitas posturas suas em relação à vida e às pessoas que o cercava. Percebeu que há veracidade na frase popular, de que a felicidade vem quando menos se procura. Porque ela surge quando nos damos conta que estamos realizando algo, quer seja no trabalho, em casa ou no amor; quando paramos de ser intolerantes quanto às pessoas que estão ao nosso lado. E isto ocorre amiúde ao entendermos, com profundidade, que todos têm defeitos, – a maioria das pessoas sabem disso – entretanto, agem como se não soubessem. Todos possuímos algum vício na personalidade, pontos negativos, que se forem analisados isoladamente desqualificariam já na primeira olhadela qualquer ser humano. Gabriel por simples percepção acreditava que ninguém é totalmente mau ou completamente bom. Ora, se não fosse assim, os seus poucos e melhores amigos nunca pisariam na bola com ele, e olha que algumas vezes, e dava graças à Deus porque eram raras, eles realmente pisavam na bola. Afinal, não é verdade que ao sair para caminhar, Jesus
foi abordado por um homem que lhe disse: “Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” Respondeu-lhe Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um que é Deus”.

Eu não pude deixar de me afeiçoar ao rapaz, e, por essa razão mesmo é que tenho de abrir um parêntese aqui, antes de prosseguir com a narrativa, a fim de esclarecer um pormenor
que só não é mais velho do que eu, por motivos óbvios. Pois, a despeito que disse ou hei de dizer ainda, só há um jeito de se fazer com que uma pessoa envelheça mais devagar que outras. E não acredite que isto aconteça por conta de cosméticos ou o que quer que se possa ajuntar sobre isso. Este segredo apenas eu detenho. Não precisa de muito, na verdade, exige apenas que o Tempo (este mesmo que vos fala) se emocione com alguém. Pois, quando uma pessoa ganha a minha atenção, não há de envelhecer como as outras...
Imagine o que acontecerá se eu ficar “segurando” a imagem da pessoa com os olhos; literalmente, estarei parado ao redor do meu escolhido, não é mesmo? Esta é a resposta! É por isso, e só por isso que, ao se olhar para alguém que esta sob os meus cuidados, não se consegue adivinhar-lhe a idade. Quem já não passou por mais de uma situação dessas, não é mesmo? Logo, resolvi que seria bom com ele, enquanto o meninote adorasse viver. Pois somente isso mantém o encanto e meu olhar próximos. Até porque, assim como Goethe
, não suporto o mau humor humano.
A páginas tantas, como seu mais novo padrinho, tratei logo de ruir as ilusões e dissipar toda a fumaça que o cegava. Em sua vida havia necessariamente ocorrido uma espécie de Big-bang
– uma explosão criadora que muda vidas e as atitudes. Passada aquela experiência, Gabriel descobriu que podia escrever.
O rapaz simplesmente, agora, sabia que o seu sorriso era muito importante para as pessoas que gostavam dele. Bem como as inúmeras qualidades delas significavam por conseguinte muito para ele. A descoberta de que mesmo a tristeza é um dos elementos misteriosos de Deus, havia lhe trazido a paz necessária de que tanto precisava e ansiava. A paz que ora vivia era algo que o seu espírito facilmente confundia com uma sensação real de felicidade. Em outras palavras, não mais procurava ignorar que a vida é de verdade; que não se tratava de uma quimera, e, sim, de um sonho realizável de luta diária até o último suspiro.

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